quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Finja-se

Pronto! Cheguei à triste conclusão que, hoje em dia, época marcante da decadência e da ignomínia, se houver quem não finja, esse será sem dúvida a excepção que faz a regra.
Hoje em dia, quanto mais complicado melhor, quanto mais complexo melhor, quanto menos pessoas entendam melhor, quanto mais obscura e mais vernácula seja a linguagem, o intento, o ideal, tanto melhor! Choca-se para se sentir a vida! Oculta-se e ornamenta-se. Fomenta-se o culto do absurdo para encobrir uma condição incapaz. Como se a vida fosse um  abanão intermitente e não uma continuidade serena, criativa e nutriente.
E percebe-se porquê. À falta da coisa natural, espontânea, pura, inocente e verdadeira, coisa essa que o homem, quer queira quer não, intrinsecamente é, à falta de uma criatividade e de uma sensibilidade incontestavelmente genuínas, há que inventar um tal emaranhado que apenas uma pequena minoria, que se autodenomina literaria, filosofica e intelectualmente iluminada, possa entender. Ficará assim salvaguardada a verdadeira ignorância, a fétida impureza e a plena incapacidade do homem que se edifica no logro de si mesmo.
Que finjam então, que se construam e se conduzam nessa ridícula contranaturalidade.
Eu fico de fora. Não vou por aí.

1 comentário:

  1. Infelizmente, o pensamento capitalista de que a escassez aumenta o valor do produto impregnou nossa vida cotidiana.

    Hoje todo mundo quer ser exclusivo, quer ser singular, quer ser moderno e eterno, particular e público ao mesmo tempo, vá entender.

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