segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Reflexão IV

Quando olhamos à nossa volta, tudo o que vemos passa pelo crivo do nosso condicionamento! E mesmo que tenhamos um vislumbre, uma fugidia percepção do que está para além dessa visão condicionada, há uma força que nos impele a não querer ver mais do que aquilo a que estamos habituados. É a força do conformismo, aquele estado preguiçoso de deixar estar o que está, aquela indolência de pensamento que nos impede de perscrutar a realidade que se nos apresenta, aquela letargia que envolve a nossa vida num mundo egoistamente cruel e em franca decadência.
Demasiado condicionados para poder ver sem esforço, demasiado preguiçosos para empreender esse esforço, demasiado egoístas e comodistas para fazermos algo, para ir mais fundo do que as meras aparências, do que as simples percepções superficiais, optamos pela via mais fácil: a de nos mantermos exactamente como estamos, de olhos fechados, recusando-nos a ver!
Se é mais fácil continuar a viver dentro da ordem estabelecida, porque carga de água haveríamos de querer mudá-la? Se é mais cómodo aceitar sem reservas e sem questões o que outros tomaram como certo, porque haveríamos nós de os contrariar? Se é mais prático que nos digam o que fazer, o que sentir, o que pensar, porque haveríamos de ter trabalho a fazê-lo de moto próprio?
E é precisamente esta atitude de uma ignorante e estonteante inacção que vai agravando os males do mundo, que são, afinal, os nossos próprios males! Porque não mexemos uma palha para nos tornarmos seres humanos conscientes, sensatos e maduros, estamos a contribuir, com o nosso decidido, inequívoco e estúpido dolce far niente, para o gigantesco agravamento das condições desfavoráveis ao florescimento de uma humanidade responsável e inteligente.
Somos lestos em criticar, rápidos em condenar, ligeiros em ajuizar, ágeis em denegrir mas extremamente lentos em construir, vagarosos em discernir, pachorrentos e frouxos na única acção que poderia mudar o mundo: o intento profundamente sério de nos vermos a nós próprios tal como somos e de olhar para a realidade com os olhos do verdadeiro discernimento!

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