domingo, 3 de julho de 2011

Nada sei

Nada sei, nada sei,
esta é que a verdade,
pois cada vez que d’algo fico certa
uma nova luz se me assoma,
uma nova perspectiva me ronda, algo me inquieta,
como se a coisa, tirada da sua redoma,
ostentasse por vez primeira um novo aroma,
uma nova cor vistosa e indiscreta.

Inspiro a nova fragrância.
Olho a coisa de diferente maneira.
E quanto mais a cheiro, e a vejo, e a sinto
com todo um novo ensejo,
mais ela me surpreende, mais se me abeira,
voltando para mim, travessa e matreira,
as suas múltiplas faces p’ra qu’eu as leia.

E em cada leitura que lhe faço,
em cada mirada, em cada análise, em cada traço,
descubro uma novidade,
um novo pedaço de verdade
na inconstância da existência inteira.
Há que olhar a coisa sem preconceito,
há que dar-lhe espaço, liberdade,
direito a que passe, de inerte e estagnada,
a obra d’arte, viva, exuberante, plena a cada instante,
e a cada novo olhar uma vez mais recriada.

Por tudo isso, ‘inda que sabendo mais um pouco, nunca sei nada!

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