sexta-feira, 26 de outubro de 2012

“O Manual do Homem Novo” – Quinta Parte

(continuação)

Born to Fly - Vladimir Kush

Culpas e cumplicidade
Não te sintas culpado. Começa tudo de novo, como num nascimento. Ouve com atenção o homem velho. Compreende o que te diz. Com a tua nova mente, desperta e serena, poderás morrer totalmente para o que te disser e não ser cúmplice do que ele fizer.
Não procures desculpas e motivos para te justificares. Não te detenhas em conversas intelectuais e argumentos astutos, enquanto as tuas acções continuam a ser as velhas. Quem já tem consciência da sua consciência como tu, não tem outro remédio senão dar o pequeno grande salto e transformar-se no Ser Total. Agora mesmo, completamente novo. Acima da dor, e sem respeitar a tua dor, que com dor se morre e com dor se nasce.
 
Homem velho
O homem velho tem qualquer sexo ou qualquer idade. Engavetou o tempo e dividiu a terra e o mundo. Tem regras fixas, moral aceite ainda que só a respeite na aparência, pertence a alguma igreja, ou a algo que a substitua, embora ignore o que é a religião e a religiosidade.
Tem partido político definido, seguro de vida, um trabalho que o aborrece, opiniões, bens, conta bancária e cartão de crédito, e, desejando assegurar a sua vida, vive semimorto; aprende a matar e a morrer, tem os inimigos que alguém lhe assinala e vai à guerra quando lho dizem, mas não sabe o que é a vida, pois raras vezes lhe falaram seriamente dela. Prefere medalhas de honra e honras póstumas de filhos heróis, e não filhos vivos em qualquer condição. Foge do silêncio e da quietude, porque neles se pode encontrar com o seu verdadeiro rosto e ver-se tal como é, o que o assusta. Mas teme mais a possibilidade de mudar totalmente de um momento para o outro.
Dá somente se receber algo em troca.
Sorri se com isso assegurar algum benefício futuro. Só se ama a si mesmo, e finge amar quando o amam. Entretém-se a consumir: roupas novas, televisão massificada, jornais, conversas sem sentido, a chamada “acção política”, o cinema, a opinião do próximo e a psicanálise quando pode pagá-la.
Vai adiando. Julga estar cómodo embora secretamente esteja insatisfeito e seja terrivelmente infeliz.
 
Tu próprio
Sai para caminhar, contempla os olhos de todos aqueles que partilham o teu próprio destino de viver e morrer.
Se não esmoreceres na tua atenção lassa sem pressa e sem pausa, até numa bela jovenzinha poderás identificar o homem velho em decomposição. Aceita-os e segue o teu caminho. Não és herói nem desejas sê-lo, basta de heróis, e não pretendes mudar ninguém nem intrometer-te. Mas em ti e a partir de ti gera-se a regeneração da espécie humana. É suficiente aceitar o salto. Subitamente deixar de ser, e novamente ser o mesmo, com o mesmo nome, mas ser novo. Tu Próprio.
 
Despertar
Desperta. Estás adormecido pelas distracções quotidianas ou semanais. Pelas palavras vãs. Pelo ruído. Com o teu cérebro iluminado compreenderás num só momento para onde se dirige o homem velho. Com essa mesma luz verás a urgente necessidade de dar uma volta às tuas palavras e às tuas acções de cada instante. Encontrarás também sem dúvida a força serena, sem que te admires, para que a tua transformação seja estável. Não deixarás dentro de ti nenhum elo da corrente do passado, nem a tua pátria, nem o teu nome se necessário for, para acabar com os cercos e as bombas e a persuasão para a morte.
Em teu redor darás forma, pouco a pouco, ao mundo novo, aquele que se constrói a cada momento e que talvez nunca se veja, cheio de Vida; ao lado do homem velho, e mesmo sem ajuda, porque a tua nova luz fez-te tão forte que nunca mais poderás acreditar que nasceste fraco e que não podias fazer o céu na terra.
Não esperes que seja o teu irmão, a tua esposa, o teu companheiro, o teu filho, o teu professor ou o teu vizinho a começar. Pensa-o tu. Di-lo tu. Fá-lo tu próprio. É urgente que renasçam em ti próprio, a cada instante, os homens novos de toda a história. É urgente que oportunamente mates todos os homens velhos que inesperadamente surjam do íntimo do teu próprio ser.
(continua)

1 comentário:

  1. Olá, Isabel!

    Obrigada por compartir a publicação, da que faço a minha colheita.
    Fui e vou lendo o livrinho e não posso contradizê-lo enquanto isento da roda da vida. Tento explicar-me...pretende ser humanamente construtivo, mas vejo um problemão à hora da materialização dos comportamentos na sociedade. Aprendi a ver seres aniquilados antes de poder pensar em nada, já seja por circunstâncias materiais ou de outra índole, mesmo uma sensibilidade indevida às "luzes" do funcionamento da sociedade. Acho até, que com sêr-se um bocadinho sensível, já resulta punitivo em distintos graus. É como se a sociedade procurara a sua sobrevivência sobre bases duríssimas, por cima do próprio indivíduo.
    Contudo, espero continuar a colheita nas seguintes leituras.
    Beijos e toda a sorte.

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