terça-feira, 20 de novembro de 2012

Insanas Volubilidades




Ainda mal saímos da parvoeira da carga policial e dos coitadinhos apedrejadores, dos milhentos comentários imbecis a favor e contra uns e outros, do espanto aparvalhado perante as acções humanas (imaturos e pascácios que somos, não conseguimos compreender ainda a nossa própria natureza e reacções!), e já estamos, de novo, paulatinamente, rodeados pela idiotice das popotas e das leopoldinas, ao serviço da quadra mais hipócrita do ano.
Ainda mal silenciamos as línguas viperinas, sempre tão prontas a criticar e a julgar, e já estamos com o espírito natalício na ponta da língua, pronto a ser arremessado a todo aquele que por esses meandros não enverede.



Ainda soam, estrepitosos, os bombardeios que dilaceram carnes inocentes. Ainda se usa, diariamente, hora a hora, minuto a minuto, a morte como moeda de troca por um pedaço de terra. Urinassem-no, aqui e acolá, delimitando-lhe as fronteiras, tal como fazem os cães, e atacassem os trespassadores à dentada, em vez de fazer jorrar o sangue de criaturas inculpadas escudados pela bestialidade das religiões e da história. Ainda a morte vitima em Gaza, ainda a fome dizima na Somália e morde em Portugal, e já as cabecinhas ocas se focam nas mil e uma inutilidades que vão compor o fútil cenário da quadra de todas as falsidades.
 
Já se fazem contas. Idiotas diplomados fazem estudos e chegam a valores médios. Sossegam as massas. Olvidam-se indignações. A ocasião que se aproxima requer pompa e circunstância, requer ofertas, mesas fartas. Enquanto se atafulham os egos com objectos cuja utilidade se reduz a substituir auto-estimas, valores e princípios inexistentes, e os estômagos com lautos manjares, os olhos só vêem os fulgores do egoísmo, e as mentes, convenientemente embotadas, não se aventuram para além dos círculos do supérfluo e do fútil.
 
Depois da quadra, voltam as indignações, fazem-se contas outra vez, soltam-se imprecações contra a crise. Alojada nos cérebros de ervilha, hibernando por agora, está já latente a quadra do próximo ano. Em momentos fugazes, durante os meses que a antecedem, lá virão outra vez à memória pensamentos incómodos acerca do mundo. Lá virão instantes em que os rostos se compungirão com esta ou aquela desgraça, com esta ou aquela guerra, este ou aquele flagelo. Mas só por instantes. Instantes que duram apenas o que tarda a pronunciar palavras como “coitaditos”, “pobrezinhos”, “desgraçados”, na conversa social do politicamente correcto.
 
Doze meses depois, repete-se o folclore, repete-se o ritual, repete-se o fingimento. Volubilidades. Oxalá fosse também volúvel a estupidez, mas essa, para mal dos nossos pecados, parece ser imutável e contínua…

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Impunidades, Falsidades e Outras Dualidades




É, ou não é, uma verdadeira carnificina a fome que os senhores do mundo estão a fazer passar às gentes do mundo inteiro? É genocídio, sim senhor! E tem bem mais vastas proporções que o holocausto! E fica impune?  Fica!
É, ou não é, um verdadeiro roubo a extorsão praticada pelos senhores do mundo, sob a forma de impostos e legislação facciosa, sobre a pessoa comum? É roubo, sim senhor! E tem bem mais vastas proporções que todos os espólios e saques de guerra! E fica impune? Fica!
É, ou não é, pura escravidão a sub-reptícia manipulação a que são constantemente sujeitas as pessoas, através da contínua degradação do ensino e das estupidificantes publicidade e comunicação social ao serviço dos senhores do mundo? É escravidão, sim senhor! E tem bem mais vastas proporções que a escravatura do passado! E fica impune? Fica!
Genocídio, roubo, escravatura! Tudo isto tem ficado impune! Todos os que, até hoje, foram castigados por crimes de guerra, de corrupção, crimes contra a humanidade, etc., não passaram de meros bodes expiatórios. São vítimas escolhidas para dar o exemplo e calar indignações. São voluntários involuntários para continuar a fazer acreditar que a justiça e a moral ainda existem. São objectos de sacrifício tão só e apenas para que os verdadeiros verdugos da humanidade possam continuar a movimentar-se sem obstáculos nem oposições.
Mas tu, que estás a ler estas palavras com um quase inconsciente aceno de cabeça em inegável concordância, crês estar isento de culpa? É que não estás, sabes?
Porque, afinal, até passas a vida com o cérebro adormecido, a líbido desperta e a estupidez lubrificada! Afinal, consegues adormecer todas as noites sem sequer pensar nas seis crianças que morrem de fome a cada segundo em que te entregas a sonhos frívolos! Afinal, és tu que idolatras o presidente ou o secretário-geral do teu partido, ainda que profiram as maiores incongruências e ordenem as maiores barbaridades! E és tu que lá vais pôr o teu voto sem sequer te dares conta de como te puxam os cordelinhos!
Afinal, és tu que, pelas costas, criticas e insultas meio mundo, imbuído de uma sabedoria “tudológica”, e na presença daqueles que criticas te inclinas reverentemente perante eles, rabo alçado e testa rente ao chão, enquanto pelos neurónios te passa a chispa da inveja e num nano-segundo te vês, babado, como o detentor desse poder que reverencias e de que falsamente escarneces! Sim, até porque eu vejo-te, na televisão, risonho e propenso à adulação quando o senhor ministro visita o teu local de trabalho; e vejo-te depois nas manifestações a insultá-lo, carrancudo e propenso a uma violência quase homicida!
Afinal, és tu que não vês que és exactamente igual aos sujeitos da tua crítica! Afinal, és tu que continuas a esganiçar-te, com a atitude enérgica e saltitante de um garnisé e uma coragem não maior do que a dimensão do galináceo, para defender a mudança! Mas, afinal, quem não quer mudar és tu! Não queres mudar a tua ambição, não queres mudar o teu sonho de poder, a tua ganância desmedida. Afinal, queres é atingir o teu objectivo, ainda que egocêntrico, ainda que insustentável, ainda que pernicioso, ainda que destrutivo, custe o que custar! Pois é precisamente este “custe o que custar” que deixa impunes os genocídios, os roubos, as escravidões… Percebes agora porque não estás isento de culpa?
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